O objetivo da inclusão da informática como componente curricular da área de Linguagens, Códigos e Tecnologias é permitir o acesso a todos os que desejam torná-la um elemento de cultura.

sábado, 20 de dezembro de 2008

A sala de aula

Texto retirado do livro: Educação Matemática:
da teoria à prática Ubiratan D'Ambrosio

Ao começar a aula, o professor tem uma grande liberdade de ação. Dizer que não dá para fazer isso ou aquilo é desculpa. Muitas vezes é difícil fazer o que se pretende, mas cair numa rotina é desgastante para o professor. A propósito, hoje é, comum nas propostas para melhoria de eficiência profissional a recomendação de evitar a rotina. Recomenda-se que nenhum profissional deve fazer a mesma coisa por mais de quatro ou cinco anos. A aparente aquisição de uma rotina de execução conduz à falta de criatividade e conseqüentemente à ineficiência. Mas, o que é mais grave, ao estresse. Sobretudo no magistério, o estresse tem sido apresentado como uma das causas mais freqüentes de inabilitação profissional. Inúmeros estudos conduzidos pela Organização Internacional do Trabalho indicam ser o magistério uma das profissões mais estressantes. Estudos recentes no Brasil, ainda muito raros, indicam ser a situação em nosso país das mais graves. Além das dificuldades intrínsecas à profissão, temos um dos mais baixos índices salariais do mundo.
Sabe-se que é comum um professor dar aulas, repetidos anos, na mesma série. Sobretudo nas universidades, é muito comum o professor que repetidamente, às vezes até por 20 anos, leciona cálculo II. Dificilmente se poderia pensar em maior absurdo. Deve ser tolerado um máximo de três anos para se ensinar numa mesma série ou uma mesma disciplina, principalmente em se tratando de professores de matemática. Para as demais disciplinas há uma reciclagem do conhecimento que resulta da própria dinâmica do conhecimento disciplinar. Por exemplo, um professor de geografia política não consegue dar aulas com o mesmo conteúdo nem mesmo no curso de um ano. No caso da matemática, a atitude falsa e até certo ponto romântica de que a matemática é sempre a mesma e a crendice de que o que era há dois mil anos ainda é hoje produzem verdadeiros fósseis vivos entre nossos colegas.
É interessante tirar um pouco a impressão de que o professor inova simplesmente mudando o arranjo das carteiras na sala! Há pouco li num noticiário que haveria um grande progresso num sistema educacional: as autoridades arrumaram as carteiras de modo que não haverá mais aquele enfileiramento, agora será tudo em círculo! Mas no noticiário esqueceram de dizer se o professor continuaria quadrado ou não. É claro que com qualquer arranjo o professor pode se comportar da mesma maneira, pode continuar sendo autoritário, impositor, impostor - faz que sabe quando não sabe - e insensível aos alunos. O fundamental não é mudar o arranjo de móveis na sala, mas mudar a atitude do professor.

Sempre guardamos na nossa lembrança a imagem de um mestre curioso, sempre querendo conhecer mais, e também do mestre amigo, dedicado aos seus alunos, interessado nos seus problemas. E dizemos que o bom professor reúne essas qualidades. No Capítulo 4 já falei sobre o que considero um bom professor. Ao destacar as qualidades que acabo de mencionar, estou diretamente sugerindo que ser um pesquisador é próprio de ser professor.

De fato, o professor-pesquisador vem se mostrando como o novo perfil do docente. Pesquisador em ambas as direções: buscar o novo, junto com seus alunos, e conhecer o aluno, em suas características emocionais e culturais. Para conhecer o aluno, uma das técnicas possíveis é a análise transpessoal. Lamentavelmente, a análise transpessoal é não só ignorada, mas, às vezes, até rejeitada nos currículos da disciplina "psicologia", que é aquela na qual se estudam técnicas de conhecer o aluno - indivíduo e classe.

Para encontrar o novo em colaboração com os alunos uma das melhores estratégias é o método de projetos. Mas isso não exclui aulas expositivas, no estilo de conferências, que continuam tendo grande importância, em todos os níveis de escolaridade formal e não-formal.
Ao se tratar de curso, não é possível que as aulas expositivas dominem o programa. Por exemplo, o curso típico tem três aulas por semana. Dessas, uma pode ser expositiva. Porém, aula expositiva não significa um professor falando e alunos ouvindo passivamente durante 50 minutos. Deve haver uma dinamização adequada.

Vou fazer uma proposta baseada num esquema em cinco etapas. A distribuição de tempo é muito importante no planejamento de uma aula. Na proposta a seguir, essa distribuição está em minutos e em percentagem do tempo total. Uma aula ou conferência típica dura 50 minutos. O ideal é empregar para esse esquema dois períodos.

1. Apresentação/introdução (no caso de conferência ou de primeira aula, é importante que o expositor seja apresentado ou se auto-apresente. No caso de curso, isso se faz na primeira aula. Nas aulas seguintes esse período é usado para comentar relatórios da aula anterior: cinco minutos ou 10% (do tempo);

2. Exposição (formal, com transparências e outros recursos: 25 minutos ou 50% do tempo);

3. Diálogo (os assistentes conversam entre si, socializando suas observações e reflexões num grupo pequeno, os seus mais próximos: cinco minutos ou 10% do tempo);

4. Questões ao expositor (a sessão clássica de perguntas e respostas: dez minutos ou 20% do tempo);

5. Exposição final (fechamento do tema: cinco minutos ou 10% do tempo).

Pode parecer uma trivialidade propor um esquema de distribuição de tempo. Mas o fato é que a estratégia de condução da aula é muito importante. Essa estratégia deve ser claramente explicitada no início da apresentação. Com isso é possível uma apresentação sem interrupção.
O diálogo é importante e dar oportunidade para essa prática é uma estratégia que vem sendo mais e mais adotada. O objetivo principal do diálogo é criar um ambiente menos inibidor para os ouvintes. Refiro-me à inibição em dois sentidos. Alguns têm uma boa pergunta para fazer, mas sentem inibição de formulá-la. O grupo pequeno desinibe e ajuda a aprimorar a questão para ser feita em plenário. Outros têm uma pergunta trivial e desinteressante, que pode se esgotar no grupo pequeno. O fato é que a qualidade da sessão de perguntas e respostas é muito melhorada com essa estratégia.

Ao lecionar um curso com um número maior de aulas, as aulas expositivas devem ser equilibradas com sessões de trabalho. Criar uma dinâmica de grupo de trabalho é muito importante num curso. Pode-se desenvolver muito bem o trabalho em grupo por meio do método de projetos. O método de projetos é pouco reconhecido nos currículos da disciplina "metodologia", que é onde deveria ser estudado nas licenciaturas e nos cursos de magistério.

A Tecnologia Renovando o Processo Educativo

Texto produzido pelas professoras Ana Maria e Gabriela, com base na leitura do texto:
O ENSINO E OS RECURSOS DIDÁTICOS EM UMA SOCIEDADE CHEIA DE TECNOLOGIAS, de Vani Moreira Kenski

A educação nos dias atuais está passando por um processo de renovação de espaços, de resignificação de conteúdos e de valores, tendo como ponto de partida todas as mudanças ocorridas na sociedade. A escola, como instituição integrante e atuante dessa sociedade e desencadeadora do saber sistematizado, não pode ficar fora ou a margem deste dinamismo.
Sabemos que o padrão educativo vigente é ritualizado, cheio de divisões, seriações, conteúdos preestabelecidos, carga horária, calendários etc., onde permanece quase sempre inalterável. O tempo destinado à criação, a interpretação, a reflexão, a descoberta de novas tecnologias é escasso e nem sempre é aproveitado de maneira racional.

Fora da escola, professores e alunos, estão permanentemente em contato com tecnologias cada vez mais avançadas, onde a máquina transforma, modifica e até substitui as tarefas humanas. Eles vivem e atuam nesta realidade como cidadãos participativos, mas não "conseguem" introduzir estas "novidades" dentro da escola, pois necessitam cumprir conteúdos programáticos exigidos.

A escola é um local de tradição cultural e de ampliação de conhecimento, onde o aluno é o centro do processo de aprendizagem, analisando e interpretando as imagens e sons existentes na TV, rádio, computador, através da imagem do professor na sala de aula.
É imprescindível que o professor perceba e saiba o valor e a importância dos recursos audiovisuais para o bom desempenho e eficácia do seu trabalho escolar. A tecnologia além de renovar o processo ensino-aprendizagem, vai propiciar o desenvolvimento integral do aluno, valorizando o seu lado social, emocional, crítico, imaginário, deixando margens para exploração de novas possibilidades de criação.

Portanto, os recursos audiovisuais servem para explorar novas possibilidades pedagógicas e contribuir para uma melhoria do trabalho docente em sala de aula, valorizando o aluno como sujeito do processo educativo.

O que é Informática na Educação?

José Armando Valente

O termo "Informática na Educação" tem assumido diversos significados dependendo da visão educacional e da condição pedagógica em que o computador é utilizado. No entanto, o MEC-PROINFO ao longo da sua história de atuação nessa área, tem muito peculiar e, portanto, merece ser explicitada.

Em linhas gerais, a Informática na Educação significa a inserção do computador no processo de ensino-aprendizagem dos conteúdos curriculares de todos os níveis e modalidades da educação. Os assuntos de uma determinada disciplina da grade curricular são desenvolvidos por intermédio do computador.

Uma vez isso posto, a primeira distinção que é necessário explicitar é que essa visão elimina o uso do computador para ensinar conteúdos de ciência da computação ou "alfabetização em informática". Nesse caso, o aluno usa o computador para adquirir conceitos computacionais, como princípios de programação e implicações sociais sociais do computador na sociedade. Essa abordagem tem sido bastante divulgada e é a solução que muitas escolas encontram para o uso do computador na educação. Para tanto, o atual currículo é incrementado com uma disciplina de "Introdução à Informática" cujo objetivo é ensinar sobre computação. Certamente isso permitirá ao aluno conhecer o computador. Porém, do ponto de vista educacional, isso não altera o modo como os conteúdos das outras disciplinas são ministrados.

Portanto, a Informática na Educação significa o desenvolvimento do conteúdo de disciplinas curriculares por intermédio do computados. Por exemplo, o conteúdo de uma determinada série pode ser desenvolvido integrando o computador aos métodos tradicionais que o professor usa. No entanto, isso pode ser feito pelo próprio professor da disciplina como por um especialista em informática cuja missão é desenvolver as atividades de uso de computador na escola. Em geral, a presença do especialista em informática tem sido adotada por escolas que deseja ter o computador implantado nas atividades educacionais mas não estão interessados em resolver as dificuldades que a inserção do computador na disciplina normalmente acarreta como a alteração do esquema de aulas, ou investir na formação dos professores das disciplinas.

A Informática na Educação que o MEC-PROINFO tem adotado enfatiza o fato de o professor da disciplina curricular tem conhecimento sobre os potenciais educacionais do computador e ser capaz de alterar adequadamente atividades tradicionais de ensino-aprendizagem e atividades que usam o computador. No entanto, a atividade de uso do computador pode ser feita tanto para continuar transmitindo a informação para o aluno e, portanto, para reforçar o processo instrucionista, quanto para criar condições do aluno construir seu conhecimento.